Campanhas já gastaram R$ 12,8 milhões para 'bombar' anúncios em rede social

No topo da lista de gastos no Facebook está o candidato à prefeitura de
Fortaleza José Sarto (PDT), com R$ 420 mil de propaganda (Reprodução)
Em 24/10/2020 às 15:30
Seja em repasses diretos ou por meio de subcontratadas, o Facebook
foi a empresa que mais faturou com as eleições municipais nestas três
primeiras semanas de campanha, segundo dados do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Até ontem, 5.096 candidatos de todo o País haviam
declarado gasto de R$ 12,8 milhões com impulsionamento de propaganda na
internet para a rede social norte-americana.
No topo da lista está o candidato à prefeitura de Fortaleza José Sarto
(PDT), com gasto de R$ 420 mil. Em São Paulo, a maior declaração de
gasto é de Bruno Covas (PSDB). O tucano declarou à Justiça Eleitoral
gasto de R$ 200 mil para que a rede social exibisse suas mensagens para
mais pessoas. A campanha confirma ter feito tal compra, mas afirma que
nem todas as despesas foram executadas e que parte desse valor poderá
não ser utilizado.
O Facebook permite que anunciantes modulem os anúncios que querem
espalhar para grupos específicos. É possível escolher se o objetivo é
que mais homens ou mais mulheres vejam a mensagem, de qual faixa etária
específica, ou de determinados gostos. Um usuário da rede que, por
exemplo, passa mais tempo vendo fotos do cães e curte páginas de
proteção ao animal é mais propenso a receber anúncios de pessoas que
escolheram atingir amantes de cachorros.
Foi o que fez a candidata a vereadora que mais gastou (R$ 180,4 mil) com
o impulsionamento na campanha, Andreza Romero (PP), do Recife. "Nossas
propostas ressaltam a importância da causa animal, e grande parte das
pessoas sensíveis ao nosso trabalho com os animais está nas redes
sociais", afirmou sua campanha. "Apostamos em um nicho de eleitores mais
ideológico, que acompanham nosso trabalho de resgate e ajuda a
protetores e ativistas não de agora, mas há anos."
Essa possibilidade de direcionamento de mensagens específicas para
certos públicos está no centro das denúncias de manipulação eleitoral em
outros países a partir de 2015 por meio da rede social. Nestas
eleições, a rede tem uma página onde algumas informações sobre os
anúncios são divulgadas. Não é possível ver quem a página anunciante
queria atingir, mas é possível verificar, em cada anúncio, qual é o
perfil do público mais atingido.
No caso de Covas, as propagandas impulsionadas que trataram da volta às
aulas foram mais vistas por mulheres acima dos 35 anos em São Paulo -
sua campanha afirma que, por uma questão de estratégia, não comenta o
perfil do eleitor que busca atingir nas propagandas.
O cientista político Cleyton Monte, do Laboratório de Estudos sobre
Política, Eleições e Mídias (Lepem) da Universidade Federal do Ceará,
disse que a minirreforma eleitoral permite esses impulsionamentos. Uma
das vantagens desse modelo, afirmou, é que o candidato chega a mais
pessoas "se tiver uma campanha com mensagem clara, com proposta de
marketing coerente".
Desequilíbrio
Monte aponta, no entanto, que o modelo provoca desigualdade de condições
entre os concorrentes. "Quem tem mais poder econômico para investir,
quando muitas vezes são as grandes campanhas, acaba tendo um maior
acesso, uma maior capilaridade nestes espaços."
"Por ser a internet um meio mais democrático do que as mídias
tradicionais, propicia ao eleitor oportunidade para conhecer um número
maior de candidatos, suas propostas e seus históricos", disse Djalma
Pinto, cientista político e especialista em Direito Eleitoral.
O Facebook faturou, diretamente, R$ 3,3 milhões, segundo os dados do
TSE. Mas parte das candidaturas está declarando os gastos como repasses
às empresas DLocal (R$ 6,1 milhões) e Adyen (3,5 milhões), companhias de
pagamento eletrônico com sede na Ilha de Malta e na Holanda,
respectivamente, usadas pela rede social para receber as faturas. Parte
dos recursos vem do fundo eleitoral.
Fortaleza é a cidade que registra maior gasto com impulsionamento em
campanhas. Além de Sarto, líder no quesito, é na cidade que estão o
segundo e o terceiro colocados: Capitão Wagner (Pros) e Célio Studart
(PV). Sarto não quis comentar sua estratégia. Capitão Wagner e Studart
relacionaram o gasto na campanha online à pandemia do coronavírus e à
dificuldade de fazer agenda na rua.
Fonte: O Tempo

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