APA Chapada do Araripe completa 28 anos: o que foi conquistado e o que ainda ameaça esse território?
No último 4 de agosto, a Área de Proteção Ambiental (APA) Chapada do Araripe completou 28 anos de criação. Considerada um instrumento importante para a conservação da biodiversidade, da geodiversidade e do patrimônio cultural da região do Cariri, a unidade ainda enfrenta desafios para a sua manutenção.
Com 972.605,18 hectares de espaço preservado, a APA Chapada do Araripe é uma unidade de conservação federal de uso sustentável, criada por meio do decreto s/n de 04 de agosto de 1997. Ela abrange parte dos territórios do Ceará, Pernambuco e Piauí. De forma direta, contribui para a manutenção da biodiversidade, a proteção de nascentes e aquíferos que alimentam bacias hidrográficas importantes, e para a regulação do clima local.
Além disso, ela promove a sustentabilidade de atividades econômicas tradicionais, como a agricultura familiar, o extrativismo e o turismo regional.
Os avanços em mais de duas décadas
Em mais de duas décadas de existência acumulou importantes avanços em sua consolidação como unidade de conservação de uso sustentável. Um dos marcos foi a estruturação da gestão local, com a criação do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que tem atuado em ações contínuas de fiscalização, educação ambiental e articulação interinstitucional.
"Houve também progressos significativos no mapeamento de áreas prioritárias para conservação, na produção de estudos técnicos sobre a biodiversidade e no fortalecimento do Conselho Consultivo da APA, ampliando a participação social na gestão da unidade", conta Carlos Augusto, Coordenador Regional do ICMBio.
Outro avanço decisivo é o processo de elaboração do Plano de Manejo, atualmente em fase final, que estabelecerá diretrizes claras para o uso e ocupação do território, buscando compatibilizar a proteção ambiental com o desenvolvimento sustentável.
Ainda, segundo Carlos Augusto, outro ponto a se destacar é a integração da APA Araripe com outras unidades de conservação da região, como a Floresta Nacional do Araripe, a Estação Ecológica de Aiuaba, a Floresta Nacional de Negreiros e, mais recentemente, a criação da Reserva de Vida Silvestre (REVIS) do Soldadinho-do-Araripe. "Juntas, essas áreas fortalecem os corredores ecológicos e a proteção de espécies ameaçadas, reafirmando a importância da APA no contexto regional da conservação da Caatinga", explica.
Ainda é preciso protegê-la
Apesar dos avanços, a Área de Proteção Ambiental (APA) Chapada do Araripe ainda é vítima do avanço desordenado do desmatamento. Em 2024, ela apareceu no ranking como a 3ª Unidade de Conservação com maior área desmatada do país, de acordo com dados do relatório anual do MapBiomas.
Somente em 2024, a região perdeu 5.965 hectares de vegetação. No mesmo período foram contabilizados 652 alertas. Em 2023, o desmatamento foi de 4.636 hectares, e na época, figurava em 5° lugar no ranking nacional.
De acordo com Carlos Augusto, muitas vezes o desmatamento está associado à expansão desordenada da agricultura em larga escala, à especulação imobiliária e à falta de controle sobre os licenciamentos ambientais municipais. "A extensão territorial da APA e a multiplicidade de municípios envolvidos tornam a fiscalização complexa, especialmente diante de recursos humanos e logísticos limitados", comenta.
Outro desafio a ser superado é a garantia dos instrumentos de ordenamento, como o Plano de Manejo e o Cadastro Ambiental Rural. "Por fim, é fundamental fortalecer a consciência ambiental da população local e o engajamento dos entes públicos municipais para que a APA cumpra plenamente seu papel como unidade de conservação de uso sustentável", finaliza Carlos.
Por Bruna Santos
Miséria.com.br
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