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Cinema caririense

Curta caririense sobre Benigna Cardoso ganha prêmio popular em festival sul-americano de cinema


O curta-metragem Vermelho de Bolinhas, dirigido pelo cineasta e jornalista caririense Joedson Kelvin, foi eleito o melhor filme pelo júri popular na Mostra Ecofalante 2025, em São Paulo, o maior festival sul-americano de cinema voltado a questões socioambientais. A obra traz à tona a memória de Benigna Cardoso, menina de 13 anos, assassinada enquanto buscava água durante uma das secas mais severas da história do Ceará, em Santana do Cariri.

A ideia do curta surgiu a partir da inquietação de Joedson durante a graduação com a ausência de registros fotográficos originais da menina, tida como símbolo de pureza e fé popular. A provocação da obra é construir, no cinema, uma nova leitura da imagem de Benigna, não somente aquela que foi consagrada apenas pela religiosidade oficial, mas especialmente a que vive na fé popular.

"E estabeleço um compromisso ético, sobretudo, de fazer com que haja um espaço no lugar da imagem, com a produção e replicação de imagens dessa memória, dessa menina, para além do aspecto religioso católico, mas contemplando o religioso católico popular, porque é daí que começa essa história", afirma o diretor.

Vermelho, bolinhas e paisagem


No filme, elementos como o pote de barro, o vestido vermelho de bolinhas brancas ajudam a construir a narrativa. Esses símbolos são tidos como os de Benigna e hoje estão presentes no cotidiano dos fiéis e na própria dinâmica da cidade.  

Segundo Joedson, a proposta é ampliar o imaginário sobre Benigna e valorizar a força coletiva que sustenta sua memória: "E, em 2023, ali antes mesmo da escrita do roteiro, teve um encontro muito importante com a Renata Fortes, que é cine educadora, que tem uma produção, um envolvimento também com a temática dos direitos humanos. E esse encontro com Renata desdobrou essa ideia, e a gente começou a pensar nesse roteiro juntos. Ela dirige comigo esse filme, ela é co-diretora de Vermelho de Bolinhas, e essa construção visual veio exatamente no sentido de evidenciar toda essa imagética em torno de benigna, partindo mesmo dos elementos que estão dentro e integram a narrativa de sua vida e morte".
A pesquisa, a escrita do roteiro e as filmagens envolveram a comunidade de Santana do Cariri em todas as etapas. Entre 80% e 90% de toda a produção teve participação direta de moradores, da serra ao sertão.

"E foi muito bonito ver o envolvimento das pessoas e a recepção delas com essa produção. E vale também dizer que a primeira exibição de Vermelho de Bolinhas não aconteceu na Mostra de Tiradentes, foi a estreia nacional dele, mas sim aconteceu na própria comunidade, no próprio bairro Inhumas, o bairro que antes era distrito, que foi onde Benigna viveu, durante seus últimos anos de existência", ressalta Joedson.

O mundo começa no Cariri, e também não termina nele

Mais que prêmio, o reconhecimento do filme, para o diretor, é um sinal de que a história de Benigna toca questões que atravessam o Brasil, como o feminicídio, a religiosidade popular, a  infância, o território, a seca e a resistência.

"E tem muito o Cariri neste filme justamente por haver nele essa força de resistência, esse lugar de resistência, de memória, de pluralidade, porque, apesar de não haver uma fotografia de Benigna, as suas imagens são plurais. É uma das propostas do filme: dizer que não há como dizer que há uma só imagem, não há como convencionar uma só imagem, uma vez que ela como existência, a memória do Cariri e o Cariri como esse lugar plural e que não se define, que não se resume, que não se rotula", celebra.

O curta-metragem foi um dos projetos apoiados com recursos da Lei Complementar nº 195/2022, conhecida como Lei Paulo Gustavo.

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